nós somos os bardos a bordo da falsa modestia
mentecaptos em festa
que uivamos em uníssono
somos os restos rotos de uma manhã fugaz
seres banais em busca de algo
com sede fome sem dinheiro e algum amor
somos o seu furor uterino
a remela do menino
a flor do meridiano
a gamela das gerais
somos seres imortais nos caderninhos e nas cadernetas
somos bardos bobos tolos auspiciosos
a agua da chuva o leito da viuva
a vulva da noiva
a lama o lema o dilema
nós bardos que estamos a bordo do espaço sideral
somos todos e nenhum
sou eu e mais alguns
que vivemos na simpatia do verbo
a cata da caça da palavra a qualquer hora do dia ou madrugada
somos bardos forçamos a barra e entramos singelos
por qualquer porta ou janela
em qualquer ocasião
somos a antítese da coragem
a nebulosa malandragem
somos eu e você
o caetano e o agepê
o axé e o arerê
a rita e a ivone
somos seres sem nome
somos bardos inglorios de um tempo inerente
um amargo doce
uma troça cafuza
somos o ditongo da medusa
cabemos numa estrofe coesa
difundimos sobre a mesa e acabamos aqui